Licenciamento de lojas em Ipanema terá regras mais rígidas
segunda-feira, 19 de março de 2012Abrir mais uma farmácia ou agência bancária em guia de Ipanema vai ser, a partir da semana que vem, tarefa hercúlea. Para tentar preservar a ambiência do bairro – com pequenas e charmosas lojinhas, bares onde os moradores se encontram para jogar conversa fora e restaurantes que reúnem famílias nos fins de semana -, a prefeitura publica segunda-feira um decreto estabelecendo regras para o licenciamento do comércio de rua em dez pontos, todos na Área de Proteção do Ambiente Cultural (Apac) de Ipanema. A exemplo do que ocorre no Leblon desde dezembro, toda loja que for aberta em Ipanema, daqui em diante, precisará do aval da Subsecretaria de Patrimônio Cultural para conseguir o alvará.
Contra o excesso de farmácias e bancos
Se um estabelecimento mudar de atividade, deixando, por exemplo, de ser um bar para passar a vender celulares, também terá que contar com a aprovação da prefeitura. O subsecretário de Patrimônio, Washington Fajardo, defende o monitoramento da comércio:
– O objetivo é impedir a descaracterização de Ipanema. É dever da prefeitura fazer o agenciamento urbano, garantindo a vitalidade do bairro. Não se pode ter excesso de farmácias, de bancos, de lojas de R$ 1,99 que nada têm a ver com o bairro. Mas não existe uma regra, cada caso será analisado individualmente – diz Fajardo.
O subsecretário cita como exemplo do que não deve acontecer a transformação de livrarias em drogarias – caso da Letras & Expressões da Rua Visconde de Pirajá.
– Um local que congrega pessoas deu lugar a mais uma farmácia, quando já existe uma quantidade enorme de drogarias. Precisamos ter um equilíbrio sustentável das atividades comerciais do bairro. Se o decreto já estivesse valendo, esse seria um caso que não deixaríamos acontecer – diz Fajardo, que ainda não proibiu nenhum estabelecimento no Leblon desde dezembro.
A decisão da prefeitura, porém, tem causado polêmica. Para Demetrius Queirós, dono do Fazendola, restaurante no entorno da Praça General Osório, a interferência do poder público no comércio não é bem-vinda.
– O mercado é livre. Num momento, tem um produto que faz sucesso, depois evolui para outra coisa. Quanto menos interferência no setor privado, melhor – defende.
Para Demetrius, a lei da oferta e da procura deveria regular as atividades do bairro:
– Se uma livraria fechou, é porque não era viável economicamente. Se fosse, não teria fechado. A prefeitura vai dar subsídio para ela continuar aberta? Não vai. O mesmo acontece com o armarinho, com lojas cujas atividades foram suplantadas por tecnologias novas. Elas fecham porque o mercado é dinâmico.
Opinião parecida tem Daniel Plá, diretor da Associação Comercial do Rio e professor de marketing e varejo da Fundação Getulio Vargas.
– Engessar o comércio não é a solução. Ipanema tem vitalidade, reúne o morador da Vieira Souto e do Cantagalo. Agora mesmo abriram seis lojas populares no bairro, no estilo Saara. Interromper isso não é correto. Para controlar o mix de lojas, dizendo o que interessa ter, já existem os shoppings. Faz parte da dinâmica do comércio a chegada de novas lojas, populares ou não.
Para o arquiteto Pedro da Luz, vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), porém, é legítimo o poder público interferir para garantir um bom mix de comércio:
– Assim, você garante que ela (a rua) seja utilizada em qualquer horário. Uma rua só com bancos não tem vida noturna. Com uma mistura equilibrada entre comércio e moradias, há vitalidade, a ocupação da rua não fica sazonal – diz Pedro, citando como exemplo de local bem resolvido a Rua Dias Ferreira, no Leblon, e como mau exemplo a Voluntários da Pátria, em Botafogo. – A Voluntários só tem banco, não tem uso nenhum à noite.
Associação de moradores é a favor
Representante dos maiores interessados nas mudanças depois dos comerciantes, Maria Amélia Loureiro, presidente da Associação de Moradores de Ipanema, gostou da iniciativa e diz ser importante preservar as características do bairro.
– O sapateiro perto do Obelisco fechou e virou farmácia. A Chaika, que era a cara do bairro, vai virar o quê? Uma nova loja de R$ 1,99, que não tem nada a ver e que não terá vida longa. É bom que a prefeitura controle. Nem tudo pode virar farmácia.
O Globo contou pelo menos 12 farmácias na Rua Visconde de Pirajá, um dos locais que vão ter o comércio controlado. Em alguns trechos, elas estão coladas umas às outras. Mas isso será coisa do passado.
– O objetivo do decreto não é criar transtornos ou inviabilizar a atividade comercial, mas não podemos deixar que Ipanema perca sua identidade cultural. Vamos acabar com a ditadura do banco e da drogaria. Abrir esse tipo de serviço vai ficar próximo da impossibilidade – diz o prefeito Eduardo Paes.
Fonte: Portal Yahoo